Roberto descobre Roberta

O dia virava noite num céu avermelhado no horizonte, enquanto uma brisa suave de verão tocou meu rosto trazendo lembranças e desejos que começaram a me fazer companhia naquela varanda, onde meus olhos buscavam o infinito atrás de respostas que nunca tinha encontrado. Talvez eu tivesse mais medo do que vontade de obter respostas, por isso boa parte da minha vida fluíra sem que minha caçada tivesse dado certo. Continuava passageiro da vida e caçador de mim sem coragem de me encontrar, mesmo sabendo onde sempre ficava escondido. O medo maior era de ser tocaiado por mim mesmo lá no fundo dos porões da minha intimidade.

Eu sabia que moravam muitas outras “pessoas” dentro de mim e que a gente vivia em guerra. Meu corpo era um front permanente de batalhas e estava ficando cada vez mais difícil conviver com tantos Eus enfiados nos meus abismos mais profundos. Pelo menos descobrira que vivera enganado até aquela tarde. Não tinha somente um desejo desconhecido dentro de mim, havia incontáveis vultos nas sombras. O pior é que agora estava desejando bater de frente com toda aquela multidão escondida e enfurecida, prisioneira da minha repressão.

Deveria deixar todo mundo preso ou liberta-los de mim? O que seria melhor? Só poderia saber se entrasse dentro de mim e buscasse meus interiores mais escuros. Mergulhei. Não demorou muito para ouvir uma pergunta agressiva, a voz veio de um dos quartos do casarão onde entrei:

– O que você veio fazer aqui?

Andei devagar pelo corredor na direção do quarto de onde saíra minha voz, de um tempo qualquer da minha existência. Eu estava ali na casa da minha tia enfiado numa camisola longa de cetim, enfeitada de rendas, laços e fitas, uma graça dependendo do desejo que estivesse de plantão dentro do meu universo, que também era o covil de um guerreiro da noite da grande cidade. Ali também era meu teatro existencial, o primeiro palco fora no quarto dos fundos da minha infância. Lá eu havia brincado de príncipe e princesa por muito tempo. Foi assim que comecei a me entender um casal.

O tempo gerou mil personagens nos caminhos da minha vida. O diabo é que eu nunca conseguia descobrir qual deles era eu mesmo, qual não inventava uma realidade para viver. Todos pareciam uma fantasia, como agora acontecia com aquele desejo que me tornei naquele quarto.

Estava sozinho naquele casarão vigiado pelo guarda que de dia era jardineiro. Jonas era moreno, cabelos longos e pretos e olhava tudo do alto de seus quase dois metros. Uma garantia de noites bem dormidas para minha tia Mônica que fora casada três vezes e agora vivia com medo de uma nova relação. Achara que tinha matado seus três maridos na cama. Era uma ninfomaníaca.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei olhando para o espelho onde meu rosto tinha um sorriso sacana emoldurando minha boca molhada de ansiedade.

– Já imaginou se te pegam assim de camisola longa e cheia de rendas e fitas?

– E daí?

– Você é filho de uma família tradicional, altamente conservadora.

Dei gargalhadas embaladas pela tensão daquela noite, onde imaginara que iria além da imaginação, além daquele teatro que grudara na minha vida desde a primeira vez que me vestira de princesa, aos quatro anos de idade na frente de um imenso baú. Naqueles tempos, um dia o príncipe comeu a princesa antes mesmo de descobrir que já ejaculava. Mais adiante a princesa cresceu e vivia dando. Porém quando acordava de manhã sentia uma frustração tão pesada, por ter jogado fora tanto esperma sozinho, que custava muito a levantar. Às vezes ficava com vontade de sair de camisola pela casa, mas logicamente sabia que era também só fingimento. Faltava coragem para ser mulher.

Agora estava grande, forte, mais de um metro e setenta e sozinho naquele casarão da tia. Aparentemente nada poderia impedi-lo em transformar o sonho em realidade. Era só provocar um encontro casual com o segurança que por ordens de sua tia inspecionava todas as portas da casa de duas em duas horas.

Estava vigiando o próximo exame de portas. Aconteceria na próxima meia hora. Sentou-se no divã da sala e abraçou o próprio corpo por cima do tecido macio da camisola. Sentia-se muito fêmea nos cabelos louros que se jogavam da cabeça até no final de suas costas. Experimentou mais uma vez sua voz mais macia, e seus gestos mais sensuais. Ensaiava aquela sedução fazia mais de seis meses. Mas perdera a conta de quantas vezes sentara naquele divã produzida para o amor, para depois dormir sozinha e cheia de raiva por não ser um homem tão corajoso quanto diziam dele.

Dava porrada em todo mundo, transara com um bando de meninas, conquistara três campeonatos de caratê seguidos. Era uma bela fera que muitas fêmeas queriam conquistar.

Só que tinha vontade de ser mulher. Uma vontade diabolicamente poderosa que vivia de tocaia dentro dele, pronta para dar o bote. Tinha pavor de um dia não conseguir segurar aquela diaba. E talvez fosse naquela noite. Puta que pariu, talvez fosse melhor ir se deitar e repetir seu teatrinho sexual mais uma vez como fizera outras milhares de vezes gozando na camisola, rebolando-se na cama com um homem em cima dela, fodendo gostoso seu cu e depois sua boceta, apertando deliciosamente seus seios volumosos.

Quando tudo passava como um furacão tinha a impressão de ter sido atropelado, depois que seu corpo rolara para todos os lados, fora colocado a força em todas as posições e penetrado selvagemente. Talvez aquilo tivesse de fato acontecido, seus peitos estavam doloridos e até roxos, estava todo esporrado, havia muita porra também espalhada pelo lençol, fria e grudenta embaixo do seu corpo todo dolorido. Aí dormia, dormia quase morrendo de exaustão para acordar e verificar que estivera viajando provavelmente num sonho.

Mas fora sonho mesmo? O assassino que também era gritou feroz que era sonho sim, um macho como ele era jamais faria papel de fêmea. Nunca! – berrou com raiva o assassino.

O outro estava sentado em cima do muro da varanda. Podia vê-lo ali da sala, mesmo no escuro da madrugada. Talvez ele quisesse matar o guarda da casa como chamava sua tia quando se referia a Jonas.

Ele já matara antes. Tirara a vida de oito pessoas. O primeiro foi seu professor de história num final de semana num hotel na serra do mar. Foram parar numa cama de casal depois de três anos de cantadas do professor.

Jeremias gozou dentro dele durante oito meses, no banheiro do colégio, no banco do carro, no mato do sítio que comprou só porque ele fez dengo que nem uma mulherzinha no cio. Depois veio o médico, o advogado, o pedreiro, o padre, o homem da rua sujo, fedorento e sem nome, mas que tinha um jeito delicioso de enfiar o pau em seu cu, um pau grande e grosso que não doía, mesmo quando ele ficava de quatro em cima do cimento do beco.

Um dia conheceu seu oitavo pênis. Este foi uma paixão de três anos e penetrações múltiplas. Este fez com que ele virasse ela de fato, de robe e camisola em casa, feito dona de casa realizada na vida e feliz na cama. Teve coragem até de botar saia e vestido para sair pela cidade. Alguns amigos não quiseram conhece-lo, ouviu muitas piadas e ironias, foi expulso de casa, ameaçado de perder a herança. Foi morar com a tia depois que o assassino matou seu amante com quatro tiros na cabeça.

Agora estava ali olhando o matador na varanda. Jonas não demoraria muito para chegar naquela porta. Se pretendia mesmo evitar mais uma morte teria que sair rápido de seus interiores. Tentou, mas não conseguiu. Estava prisioneiro do desejo, daquele desejo que nunca realizara.

– Afinal o que te segura? Do que você tem medo? Tem tanta gente dando por aí, cara, que babaquice. Além do mais você já ensaiou tanto que terá tudo para dar certo quanto estiver sendo enrabado. Vai!

Não conseguiu identificar de onde vinha aquela voz do escuro de seus porões. Era um dos seus Eus, mas qual deles? E pensar que sempre se considerara livre de testemunhas dos seus muitos crimes de cama. Precisava retornar ao quarto dos fundos de sua infância, lá sem dúvida deveria encontrar todo mundo que fizera dele o que era hoje. Fora até aquele lugar algumas vezes, como naquela tarde, mas de repente perdia o rumo e voltava para fora. Retornara milhares de vezes como naquele momento, confuso e fervendo de desejos.

Queria sair do divã, mas não conseguia suspender o corpo. Olhou pela janela e não viu mais o assassino. Desejou que ele viesse salva-la, mas agora estava só. Quis tirar a camisola, mas a roupa estava tão gostosa em seu corpo. Tomara um banho delicioso e longo de banheira, ficara toda perfumada, pele macia, sedosa. A diaba tomara conta de seu mundo por inteiro. Sentia-se com seios fartos, ancas largas, coxas redondas e bem torneadas, bunda arrebitada e macia. Estava inteiramente mulher, pronta para o guarda.

Escutou os passos pesados de Jonas, tremia tanto que balançava o corpo todo, mexia com todos os músculos, o coração disparado parecia que iria saltar para fora de seus peitos. Sim, estava com seios. Claro que estava. Tomara que Jonas pudesse ver seus seios, tomara, fez figa num gesto cheio de tesão.

Quando a porta abriu encolheu-se assustada como um feto em cima do divã. Jonas jogou o facho poderoso da lanterna em cima de sua figura feminina e apavorada, quase grudada no divã. A luz aumentou de intensidade em seus olhos quando viu o guarda se aproximando dela.

– Seu Roberto??? – A voz do guarda rompeu o silêncio carregada de espanto, ele guardou a pistola que apontava para o outro segundos antes.

– Desculpe Jonas – ficou surpreso como sua voz saiu delicada, parecia quase um som de flauta como diria um amigo quando falava de um conhecido travesti da cidade.

– O que o senhô… senhô… a senhora está fazendo aqui? Esta sem sono?

Ele ficara na dúvida se o tratava como homem ou como mulher. Deveria aproveitar dessa situação? Ou ele estaria fazendo gozação? Podia ser também que estivesse até com medo de perder seu emprego e dessa forma procurando se adaptar às circunstâncias. Por enquanto seria melhor continuar conversando como mulher, meio acuada, triste, talvez deprimida, ahhhh, sei lá, refletiu rápido, tinha que tentar manter aquela situação para ver o que poderia acontecer. Continuou falando num tom bem feminino, procurando ser naturalmente mulher, não uma bichona afetada.

– Não consigo dormir, Jonas. Estou muito nervosa.

– Talvez fosse melhor me contar o que está acontecendo.

– Eu não sei o que está acontecendo comigo… de repente acordei aqui embaixo, sentada neste divã de camisola… foi tudo tão estranho.

– Sonambulismo… a sen… senhora sofre de sonambulismo?

– Que eu soubesse não. Quando dei por mim estava aqui no divã. A porta estava aberta?

– Estava. Por isso entrei apontando a pistola… desculpe.

– Tudo bem, você é um bom guarda, aliás, um guarda muito bonito, sabia? E um jardineiro bonitão também, tem um corpo que parece de atleta.

– Obrigado… eu…

– Nunca disseram que você é bonito, muito bonito como homem?

– Bem… estou surpreso com a sen… senhora falando assim de mim.

– Mas você está muito atraente vestido de pijama de malha.

Ele era mais do que uma atração, naquele instante era o desejo mais violento que sentira por um homem. Podia perceber o volume do pênis dele sob a calça justa de malha e aquela coisa ainda não estava dura, imagine… Merda… durante a vida toda ensaiara para viver uma situação como aquela, e no entanto não sabia como fazer para cantar aquele homem. Ele ficara subitamente calado olhando para o nada, talvez tão perdido como ele.

– É melhor a senhora ir dormir. Vá descansar que com certeza irá acordar melhor.

– Não consigo dormir, Jonas. Estou com medo de ficar sozinha naquele quarto. Aqui nesta casa é tudo muito grande e silencioso, eu fico ouvindo ruídos estranhos no silêncio.

– É tudo imaginação…

– Nem tudo. Eu não sei como vim parar aqui embaixo e de camisola, falando como mulher, agindo como mulher e tendo desejos de mulher.

Ele emudeceu novamente. Quem sabe agora não seria o momento de dar o bote? Morrendo de medo foi chegando a mão direita para tocar na coxa dele sentado perto dela olhando para a porta aberta. Deslizou os dedos pelo couro do divã até tocar a coxa dele, sentindo o tecido suave do seu pijama. Jonas continuava olhando para a porta aberta, rígido, ouvia a respiração agitada do homem.

– Tem coisas que acontecem com a gente que não podemos evitar – falou alisando a coxa dele bem carinhosa – desejos que tomam conta da gente – passou a apertar a coxa dele com volúpia.

– É verdade – ele respondeu sem virar o rosto, olhar fixo na porta aberta de onde vinha um vento fresco, quase frio.

– Já sentiu desejos que não conseguiu dominar?

Uma coruja cantou lá fora antes dele responder que já fora preso por atender um desejo. Contou cheio de dificuldades para falar que havia violentado uma menina que provocara sua masculinidade de forma quase doentia. O curioso recordou mais, é que tinha uma saudade gostosa naquele caso que fizera ele virar preso por alguns meses. Conhecera seu primeiro momento intenso de beleza.

– Momento intenso de beleza? – Roberto perguntou surpreso –

– Foi com esta afirmação que meu advogado conseguiu fazer minha defesa tão bem feita que fui absolvido. Ele disse que a menina ao tentar meus desejos, como tentou, também conseguiu criar na minha vida um momento intenso de beleza. Realmente. Ela sempre ficava me provocando todas as manhãs enfiada num short minúsculo, a blusa com um decote muito generoso. Um dia eu não resisti.

Mantinha a mão nos carinhos na coxa dele e ousando mais, tocando seus pelos mais íntimos por cima da calça do pijama. Pouco a pouco foi notando na penumbra da sala que recebia iluminação do lampião do jardim que o pênis de Jonas dava sinais de vida, e numa potência que não podia mais ser escondida. Ele, contudo tentava simular naturalidade, olhar fixo para frente ou de vez em quando mexendo a cabeça para o lado da porta que dava para o jardim.

Mas eu estava Roberta, mais Roberta do que nunca e passava as pontas dos dedos bem de leve por cima do pênis dele, ainda de pijama, fazendo um tremendo esforço para “ignorar” o que acontecia naquela sala. Um turbilhão de cenas sacudia minha mente e dava mais velocidade à circulação do meu sangue. De repente entrei no quarto dos fundos, tudo ficou maior à minha volta com meu tamanho de garoto de 10 anos, a camisola ficou tão grande que meus pés sumiram. Meu primo me abraçou por trás enquanto dizia, “já que você está de camisola vai ser minha mulherzinha”. Foi a primeira vez que senti um pau dentro de mim, e depois da dor o prazer que dominou meu corpo, ele pediu meu primo dentro de mim centenas de vezes.

Quando ele começou as penetrações eu gozava em seco, sem ejacular, só sentindo as palpitações no pênis que curiosamente não endurecia, mas me dava intenso prazer, meu corpo era sacudido por ondas de prazer enquanto eu rebolava freneticamente embaixo daquele guri gostoso que me apertava e me puxava pelos ombros furiosamente até berrar que estava gozando. Mais tarde experimentei um gozo muito mais intenso com meu primo, eu já ejaculava, o esperma saia com tanta força de mim que espirrava longe, mas meu pau estava sempre mole.

Meu primo foi uma delícia, foi real. Eu fui muito mais corajoso até os 14 anos de idade. Depois tive que penetrar pessoas, o que também gostei e fingir que gostava de usar pijamas masculinos. Arranjei namoradas, fui lutar Karatê, virei um campeão, executivo rico e fazendo sucesso nos negócios. Mas de noite em casa escutava música clássica ou jazz de camisola longa, cheia de lassidão.

Quando segurei o pênis de Jonas sob a calça do pijama o assassino entrou na sala. Mesmo assim mantive as carícias no homem que já começava a reagir aos meus toques de fêmea. Jonas começou a tocar minhas coxas por cima da camisola que começou a suspender enquanto me beijava gulosamente na boca, ele me chupava como se quisesse engolir meus lábios, beijava molhado, me lambuzando deliciosamente.

O assassino na sala e ficou nos observando. Aquele meu Eu estava de quimono de Karatê e em postura de ataque. Era um ambiente de guerra que Jonas não conseguia ver e eu deveria protege-lo para que fosse meu macho ou deixar que ele morresse. Outros Eus foram invadindo a sala, não pensei que fossem tantos. Uma multidão de rostos iguais ao meu formavam uma assistência agitada em volta da gente começando um sexo mais forte em cima do divã. Ninguém, entretanto se mexia, todos os Eus pareciam aguardar alguma decisão que eu iria fatalmente tomar.

Cada um deles era um dos meus desejos, isso era a única coisa que eu sabia de mim. Porém como sempre não conseguia identificar ou sentir todos os desejos. Uma vontade de fugir de tudo, outra de agarrar Jonas com unhas e dentes e implorar que me fizesse mulher, juntava-se a outras sensações que percorriam minha mente de forma vertiginosa, enquanto minha camisola deslizava suavemente pelo meu corpo de baixo para cima, movida pelas mãos firmes de Jonas.

Essa vontade de viver, de satisfazer os desejos de fêmea que foram dominando todos os meus Eus mais fortes explodiu minha energia feminina reprimida por tanto tempo, incendiando meu corpo e o de Jonas que começou a penetrar minhas carnes me fazendo sentir aquela dor gostosa de mulher sendo possuída. Ele era bem dotado, a dor aumentou de forma intensa no meu anus, mas eu estava louca por ele, queria ele inteiro dentro de mim.

De repente o assassino cortou minha felicidade, ele surgiu da escuridão das minhas paixões e jogou Jonas para o alto facilmente fazendo com que o caseiro caísse no chão atapetado da sala com estrondo. O homem ficou totalmente aturdido com o golpe e a surpresa daquele ataque. Levantou-se devagar esfregando um dos braços que doía muito porque caíra de mau jeito quase no meio da sala. Vestiu a calça de pijama que estava no chão e questionou “Roberta” com raiva:

– Você enlouqueceu? O que houve com você?

– Eu não sei.

Eu bem que sabia. Nos últimos anos ficara com muito medo de ser descoberto como bissexual. Depois resolvi fazer psicanálise, queria saber mais sobre mim mesmo, saber, por exemplo, se homossexualismo ou transexualismo eram de origem genética ou a gente virava gay por outros fatores da vida. Soube então que o padrão básico de formação do corpo e do cérebro do feto da espécie humana é feminino, e que disso resultam algumas características femininas sem função encontradas nos homens – mamilos, por exemplo.

O analista que era médico também me explicou que os mamilos no homem também possuem glândulas mamárias que não entram em funcionamento, mas conservam a capacidade de produzir leite.

Eu era inteiramente normal como homem fisiologicamente. Porém nascera com o cérebro estruturalmente mais feminino do que masculino segundo considerações do psicanalista. Na realidade estivera me tratando para aprender a administrar minha bissexualidade ou transexualidade. Quando eu olhava uma mulher bonita na rua tinha duas vontades: uma de transar com ela. A outra, ser igual a ela, morria de inveja de uma mulher bonita, logo ficava imaginando que eu poderia ser assim, uma linda mulher como a que estava vendo na rua.

Quase sempre que eu me entregava para um homem ou travesti depois do ato ficava com raiva do que tinha feito. Fiz terapia por alguns anos e até aquela noite não tinha enfrentado um encontro sexual real com um homem.

– Por que me empurrou com tanta violência? Pensei que estava gostando.

– E estava.

– Mas então por que…

– Eu quero e não quero, é uma loucura…

Jonas sentou-se no divã.

– Dizem que o senhor já matou gente. É verdade, seu Roberto? O senhor me desculpe perguntar, mas é que…

– Eu sei. Depois de tudo o que aconteceu. Não, eu não matei ninguém, Jonas. As pessoas inventam muitas coisas contra nós que temos um pouco mais de dinheiro.

– Eu queria perguntar mais algumas coisas para o senhor. Posso perguntar ou devo voltar para o meu trabalho, senhor?

– Tudo bem. Pergunte tudo o que quiser, eu também preciso falar mais de mim.

– Bem, eu acho difícil perguntar as coisas para o senhor, o senhor entende, né?

– Entendo sim. Eu sou bissexual ou transexual, não consegui identificar melhor minhas tendências, mas sei que gosto de ser mulher. E tentei me tratar com um psicanalista para evitar fazer o que fiz a poucos minutos com você. Houve um tempo na minha vida em que fiz sexo com homens numa boa, gostava muito,tanto de homem como de mulher. Depois fiquei muito agressivo e parei com tudo. Fiquei escondido nas minhas fantasias solitárias. Fui para uma terapia analítica durante os últimos anos. E aqui estou eu com vontade de ser sua mulher esta noite.

Roberto agarrou Jonas pelo pescoço puxando sua cabeça e grudou sua boca na do outro com intensa volúpia. Jonas topou o beijo de língua, excitou-se deliciosamente de pau duro mais conseguiu afastar Roberto para começar outra conversa:

– Você me assusta, quero você, mas estou com medo… Roberta.

Ela o pegou pelas mãos carinhosamente e falou nervosa, voz suave e bem feminina.

– Me ajude, Jonas, eu estou te desejando muito, te quero macho dentro de mim, mas estou confusa… não tenha medo de mim… nunca matei ninguém, inventaram muitas histórias de mim.

– Mas a polícia andou investigando.

– Foi tudo armação – passou as mãos no corpo do outro e começou a acariciar seu pênis que depois libertou da calça do pijama para intensificar as carícias.

Jonas ainda conseguiu falar.

– E se depois você se arrepender? Eu tenho medo… Roberta.

-Venha… não vou me arrepender…

Os dois se agarraram furiosamente em cima do divã. Fechou os olhos para não ver mais o assassino nem sua multidão repressora de plantão, e então implorou para ser até violentada se tentasse resistir. Jonas então mostrou como era forte. Montou em cima de mim e arrancou com brutalidade minha camisola. Não demorou muito para me dominar e começar a invadir meu corpo com toda a sua potência de macho. Senti seu pênis volumoso e comprido afundando para os meus interiores. Doía intensamente, ele era bem grande, mas as delícias de ser mulher começavam para mim.

Ele começou um jogo lento e preciso de penetração. Era um mestre do amor, sabia como colocar uma fêmea ensandecida de prazeres, embriagada por todas as loucuras de Eros.Roberta tomou coragem e abriu os olhos e viu todos os seus Eus numa masturbação coletiva como num grande aplauso pelo seu ato. Pouco a pouco aquelas imagens à sua volta foram perdendo definição como num filme que vai saindo de foco até que já não havia mais ninguém observando o casal.

Só nós estávamos ali naquela sala fazendo um amor barulhento, descarado, despojado de tudo, um corpo-a-corpo ruidoso, onde nossas bocas se caçavam furiosamente, braços juntavam um ao outro cada vez mais arrochados.

Jonas metia vigorosamente o pau no meu cu, num vai e vem alucinado. Eu mergulhei num frenesi de fêmea deliciada por intensos prazeres que faziam todos os meus órgãos vibrarem ao mesmo tempo, era um gozo da alma para o corpo, uma energia brutal que vinha das minhas profundezas de mulher inventada pelos meus sonhos mais loucos. Os movimentos que fazíamos tomaram conta de tudo, eu rebolava debaixo dele que jogava seu corpo contra o meu num ritmo frenético. Gemíamos em uníssono, eu implorava que ele não parasse de me foder, que eu seria mulherzinha dele para sempre. Adorei ser chamada de puta, quando ele me sufocou num tremendo abraço, apertando meus seios, enquanto inundou densamente minhas entranhas com sua porra quente e gostosa. Meu gozo chegou em seguida, ainda em tempo de juntar-se ao dele. Foi uma viagem ao Nirvana. Meu pau mole esporrou grosso e de forma abundante por cima do divã me deixando toda melada.

Ele dormiu dentro de mim. A sala cheirava a sexo. Abraçada com ele, sentindo seu peso de macho em cima de mim percebi que isso dá paz e felicidade, enquanto seu pênis foi escapando suavemente do meu anus dilatado e dolorido. Logo depois adormeci.

Quando abri os olhos o relógio na mesinha ao lado da cama marcava uma hora da tarde. Eu estava só na minha cama de casal. Fiquei pensando em coisas metafísicas, no cosmos e de repente achei que o que temos de informações em relação a nós mesmos, aos nossos comportamentos, são conceitos gerais e abstratos construídos pela gente com o intuito de organizar a experiência sensível que desenvolvemos das coisas que atravessamos pelos caminhos da vida.Mas a vida continua sendo sempre um exercício crítico e hoje habitamos um mundo onde geramos problemas numa velocidade muito maior do que nossa capacidade de inventar soluções.

Comecei a entender pela primeira vez na minha existência que poderia tentar viver sem ficar com raiva de mim mesmo por ter me dado prazer. Agora poderia deixar existir a mulher que vivia dentro de mim, ainda que tudo fosse um auto-engano, mas também começava a descobrir na preguiça deliciosa que percorria meu corpo de mulher realizada, que o auto-engano é o único caminho que pode fazer a felicidade humana.A verdade dos apaixonados mente para construir a felicidade impossível.

Ao tentar aprofundar mais reflexões acabei rindo de tudo aquilo porque a informação que geralmente temos de nós mesmos, não é a informação que se quer. A informação que se quer não é a informação da qual se precisa. A informação da qual se precisa não é a informação que se pode obter e muitas vezes a informação que se pode obter ainda não está disponível para nossa inteligência que irá avançar mais e perguntar mais ainda sobre quem somos nós.

Levantei e fui almoçar com minha tia e Jonas. Eles me acharam linda no conjunto longo de robe e camisola de seda que eu vestia.


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